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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

sábado, 6 de março de 2010

Convite

Convite

A Fundação Cultural Nilo Pereira convida representantes de toda classe artística de Ceará-Mirim para uma reunião nesta segunda-feira (08/03/2010) as 10h00 da manhã, em sua sala no Centro Administrativo da Prefeitura de Ceará-Mirim.
Em pauta a apresentação da proposta do Projeto de Lei que cria o Conselho Municipal de Política Cultural.

Ceará-Mirim RN, 04 de Março de 2010


Atenciosamente,

Waldeck Araújo de Moura
Diretor da Fundação Nilo Pereira  

* * * * * * *


Aos pés dos montes e colinas, atravessando verdes vales e se estendendo pelos canaviais, ecoa pelo ar, na serenidade das noites quaresmais, cantos que tocam profundamente o coração de uma gente simples e verdadeira. Canções essas que não foram produzidas pela fascinante “indústria cultural”, e dela não têm o foco. A beleza e a força de tais cantos está no fato de que nasceram no aconchego das comunidades de fé e apoiados em tradições milenares.

Via-Sacra


Da janela de minha humilde cabana Feita todinha de palha e sapé
Lanço sereno olhar sobre a noite fria.
No negro céu milhões de estrelas cintilam ao longe.
Tão distantes, tão miúdas e tão brilhantes.
Parecem pequenos e travessos olhos
Olhando lá de cima o que se passa aqui embaixo.

Noite serena e melancólica.
Com a seriedade e melancolia
Próprias dos tempos quaresmais.
Eis que surge lentamente, solenemente,
Quebrando a monotonia da noite: a procissão.
Vem serpenteando aos pés dos montes,
Subindo colinas, atravessando vales de lágrimas.
Percorre estreitos e tortuosos caminhos
Como estreitas e tortuosas são as estradas
Que levam aos céus da glória.

À frente: a cruz do flagelado;
Acompanhando-o, dezenas de velas iluminam
Os íngremes caminhos;
Segurando-as homens e mulheres, sérios, compenetrados,
Como o exige a ocasião.
Pingos de velas caem sobre a pele
Ressequida de camponeses sofredores...
Seus rostos tristes suportam com resignação
Este pequeno martírio...
Bem menor que o peso das cruzes
Que carregam sobre os frágeis ombros.

Um canto triste e lamentoso
Derrama-se sobre a noite quieta,
Tal qual o lamento paterno
Ante a dor do filho amado.
As beatas com voz pungente puxam o canto:
“A morrer crucificado, teu Jesus é condenado
Por teus crimes pecador, por teus crimes pecador “.

Pobres homens e mulheres de boa vontade!
Segurando vossas velas.
Compenetrados em vossas orações
Nem percebeis que percorreis, vós mesmos,
Vossa própria Via-Sacra.

Nela encontrais tantos Judas que vos traem;
Pilatos que lavam as mãos, indiferentes à vossa dor;
Herodes e soldados que vos tratam com desprezo.
Há até mesmo quem vos crucifique.
Não desanimeis porém.
Nessa vossa Via-Sacra encontrais também:
A solidariedade dos Simãos Cirineus;
O carinho das Verônicas;
O amor da mãe amada que jamais abandona o filho.
E a esperança de ressurreição.

Passa a procissão.
Fecho a janela de minha humilde cabana.
A vela acesa no pequeno altar
Clareia a escuridão de minha noite interior.
Meus joelhos se dobram
Ao peso de minha própria cruz.
Gotas de sangue e suor
Escorrem pela minha face
E caem sobre o chão de barro.
Enquanto meus lábios murmuram uma prece:
“Pai, perdoai-me porque eu também não sei o que faço”.
Jose Flávio
Campinas 14 de abril de 2009

Foto da ilustração: Internet

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