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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

domingo, 21 de fevereiro de 2010

I’m a Rocker

Eu já fui uma brasa


“Eu também um dia fui uma brasa
e acendi muita lenha no fogão.”
(Já Fui Uma Brasa – Adoniran Barbosa
e Marco César)

Com um olhar de soslaio para o passado, coisa que eu não gosto, para não dizer o contrário, porque para mim é muito bom narrar essas boas lembranças, então eu me recordo daquele tempo de roqueiro. O Rock in Rio engatinhava, a cidade do rock já havia sido sonhada e por aqui a gente sonhava também. E não é que o sonho (quase) se tornou realidade naquela primeira metade dos anos 1980! Bom, pelo menos parte dele. Aquela turma de amigos formada pelos futuros rockers Washington, Ionaldo, Júnio Horácio, Temístocles, João Palhano, Erivan Lima, Barnabé e eu chegou a fundar o Rock’s Club. Curiosamente o Ruy Lima (fã do rei do rock) ainda não fazia parte daquela trupe que tinha carteirinha e tudo. Era uma onda! Com essa carteirinha que supostamente nos dava direito a entrar (às vezes) de graça nas festinhas, cada um guardava orgulhosamente em seu bolso aquele passaporte da fantasia. Acredite que às vezes a investida de entrar em alguns clubes da cidade sem pagar quase funcionava. Se o porteiro (ou segurança) era desavisado e se rendia ao visual diferente e futurista daquela carteirinha, a noitada estava garantida. Dentro do clube a gente era o destaque. A La James Dean, mas sem os carrões velozes, a turma do rock mexia com a imaginação das pessoas da então pequena e pacata cidade dos verdes canaviais.
Com as caras pintadas a la banda KISS

Alguns apelidos (que preferíamos considerá-los nomes artísticos) rolavam na comunidade roqueira. Isso sempre puxando para o artista preferido de cada um, que poderia ser qualquer tipo de artista e não só cantor. Assim, por exemplo, o Ionaldo era chamado de Ionsbourne (em referência a Ozzy Osbourne), Temístocles, não sei bem por que, virou Temisboy (talvez pela sua então virilidade), e o líder (era assim que ele assinava na carteirinha de sócio) do grupo, Washington Pereira, chamava-se John Washington Lord (por razões que ainda pretendo descobrir – ou que talvez até bem sei). Orgulhosamente eu rabiscava o meu nome artístico em papéis avulsos treinando para uma futura assinatura de Eliel Dylan. Ora, pois! Colou para quase todos ali, menos para o chefão, o Lord. Esse astucioso resolveu me apelidar simplesmente de Padre Zé Dylan. Era justificável, pois meus ídolos daquela safra eram mesmo Pe. Zezinho (por causa dos movimentos da Igreja), Zé Geraldo e Bob Dylan. Mas como ser um roqueiro “padre” ou “padre” roqueiro? Ah, mas para meu consolo havia a banda Judas Priest. Então eu curti aquilo tudo. E quando chegou o grande dia do Rock in Rio, fomos assistir de camarote na Praça das Cinco Bocas, na televisão pública. Claro que para convencer o vigia a nos deixar assistir aquela maluquice até altas horas, cortando o barato de algumas pessoas presentes (e ali, literalmente bem mais presentes que nós) de assistirem a um filme em outro canal, tínhamos que conversar baixinho com o responsável, às vezes até dar uma gorjeta pra coisa poder funcionar. Enquanto não começava, corríamos para uma mercearia próxima, daquelas que tinha três portas na frente, e degustávamos um delicioso vinho de Jurubeba. Para tira-gosto, a gente pedia mortadela. Numa dessas ocasiões o estoque dessa iguaria acabou e o jeito foi mandar fritar ovo mesmo.
Foi tudo muito bom, até que o rock errou! Ou será o sinal do tempo em nós?! Hoje, todos senhores casados (ontem, dia 20 de fevereiro, eu e “minha senhora” completamos 22 anos juntos – o que agora para muitos moderninhos talvez soe démodé), já quase cinqüentões, é bom vivermos o romantismo daquele tempo de puro rock and roll. E eu ainda me considero um roqueiro. I’m a rocker!

Crédito das imagens:
Foto: Juscelino
Carteirinha: Eliel Silva

6 comentários:

Marcio Roberto disse...

gostei da foto... essa galera ja faz rock a muito tempo....

KDA2 disse...

Essa carteirinha é muito massa tem muita história boa hehe. Parabéns pelo seu blog viva ao Rock'n'Roll. uma abraço. Hérmano KDA2.

ELIEL SILVA disse...

Obrigado, Márcio e Herminho, pelos acessos e comentários típicos de roqueiros - curtos, porém sinceros. Viva o Rock and Roll! No Brasil e no mundo... (E até em Ceará-Mirim!)

Ionaldo Oliveira disse...

Lembro o quão prazeroso era tê-la em minha humilde carteira sem cédulas, mas fazia parte da nossa realidade. Lembro também q o nosso rock's club saiu numa revista famosa nacional q não lembro o nome agora e apareceu um tal de "jojó metaleiro" a nossa procura na casa de Washington. Tudo era motivo de orgulho... e porque não lembrar da carta que enviamos para 96 fm q nos ofereceu algumas canções de rock regadas de elogios para com a turma... enfim, são momentos como estes q ficam gegistrados para sempre na nossa memória, só lamento profundamente não saber mais por onde anda a minha carteirinha...

Zilene-profa disse...

Kkkkkkkkkk!
Q fantástico,Eliel...Eu também tinha uma carteira dessas, como fã inveterada de Rock, q sou.Até dia desses ainda tinha a minha, porém uma chuva violenta conseguiu destruir alguns documentos meus e lá estava entre eles, a minha carteira.Uma pena!

C.Henrique disse...

Cara, já tinha ouvido falar do Rock' Club, mas ver a carteirinha com a foto do Eliel e essas imagens da galera foi demais! É muita música! Parabéns aos rockers!