“Basta ser sincero e desejar profundo,
Você será capaz de sacudir o mundo...”
Vitoriano Roberto, natural de Angicos/RN, cidade turística e que tem história. Em 1983ele veio a Ceará-Mirim para visitar a sua irmã, professora Vitória. Não. Não desembarcou no “Trem das 7”, mas, acreditem, no ônibus do Grupo Show Terríveis. Isso, à convite do seu primo Ivan, componente do grupo musical. Já aproveitando o “embalo” da viagem, participou de uma daquelas festas tradicionais aqui da cidade: Detalhes, ou talvez Quando Setembro Vier. Isso ele não soube precisar. Mas o fato é que o cara gostou da terrinha que a ficou visitando constantemente. Tanto que, mais tarde, em julho de 1989, o então professor Vitoriano Roberto participou aqui de um Encontro Pedagógico, seguido de um aniversário, onde conheceu a sua esposa. Nessa festinha ele pretendia ouvir uma fita cassete, que havia gravado na loja de Waldeck Som, com músicas de Raul Seixas e Sérgio Sampaio. Mas a turma queria mesmo era que ele pegasse o violão e mandasse ver, ao vivo. Então o cara se rendeu aos apelos e abriu o gogó, tocou, cantou e agradou. Dividindo a missão de tocar e cantar com o Chico Buarque de Ceará-Mirim, Marcos Brandão, que mandou muito bem nos clássicos da MPB. Vitoriano fez um apanhado do cancioneiro de Raul Seixas e Zé Ramalho. Bom, daí em diante haja história. Participou ativamente de vários eventos aqui na cidade, do rock a MPB. Nas primeiras manifestações pró Raul Seixas ele estava presente.
Pois é. Ma essa pequena introdução foi para informar que o Estado do Rio Grande do Norte vai estar representado por ele na Caminhada Raulseixista, no próximo dia 28, sexta-feira, na cidade do Rio de Janeiro. Na oportunidade se comemora o aniversário do Maluco Beleza. A caminhada refaz o percurso que os parceiros Raul Seixas e Paulo Coelho fizeram tantas vezes para divulgar o lançamento de discos que se tornaram verdadeiros clássicos, como o LP Guita, que completa 50 anos agora em 2024. Convidado por Tânia Menna Barreto, uma das ex mulheres do Raul, Vitoriano será uma das atrações do show musical. E é bom lembrar que, além de ter tocado com tantos músicos aqui do Estado, o cara traz também no seu “alforje de caçador” encontros memoráveis com pessoas ligadas a Raul Seixas e a sua obra. Os pais do Raul, o guitarrista Rick Ferreira, o parceiro Cláudio Roberto, Sylvio Passos (amigo pessoal do Raul), ex mulheres do Raul, filhas, e tantos outros “malucos beleza” por esse Brasil afora.
A aproximação de Vitoriano com Raul Seixas (ao vivo) aconteceu no ano de 1983, muito embora não tenha havido contato físico entre eles. E foi no Aeroporto Augusto Severo, em Parnamirim/RN, onde na época o seu pai trabalhava na Infraero, e facilitou a “olhadela” do fã enquanto Raul estava na sala de desembarque, se queixando de uma dor abdominal, e foi levado às pressas para o Hotel Reis Magos. À noite, ídolo e fã voltaram a ficar bem próximos um do outro, no show que aconteceu no Palácio dos Esportes em Natal/RN.
Encontros e despedidas
Em agosto de 1990, Vitoriano se encontra pela primeira vez com os pais do Raul Seixas na capela do Cemitério Jardim da Saudade, em Salvador/BA, onde estava sendo celebrada uma missa por 1 ano de saudade do eterno Maluco Beleza. Também chegou a jantar com Dona Maria Eugênia e seu Raul Varela Seixas, e participou de uma exposição de objetos pessoais do Raul no Shopping Barra, onde, a pedido do casal, ficou “tomando conta” da exposição numa daquelas noites, enquanto aguardavam chegar a equipe do Shopping.
Vitoriano também conheceu pessoalmente o “Serrote”, Waldir Serrão, criador da primeira banda de rock na Bahia. Foi ele, ainda menino, que incentivou Raul a curtir rock. Thildo Gama, também um dos pioneiros do rock baiano, primeiro guitarrista de Raul e integrante do Grupo Relâmpagos do Rock, mais tarde rebatizado como The Panthers.
Rick Ferreira – guitarrista de Raul e seu fiel escudeiro. O encontro do maluco beleza potiguar com o Rick aconteceu em Brasília, em 2017, à convite do jornalista Pedro Wolff, onde participaram de um evento. Rick Ferreira, ao ver Vitoriano cantar, fez o convite para participar do show dele e ainda sentenciou: “Gostei! Até na hora que você trocou as estrofes da música em Há Dez Anos Atrás, me lembrou Raul”. E caiu na risada. Vitoriano respondeu que trocar as estrofes das músicas de Raul era a sua especialização. E riram todos. Rick ainda falou: “Achei lindo. Porque você canta com propriedade e sem estrelismo”. Pega, porra!
O encontro com o Sylvio Passos, o Sylvícola, poderia ter acontecido em 1994. Ficaram se encontrar na Galeria do Rock, São Paulo. Mas o Sylvio não apareceu. Vitoriano ficou meio que decepcionado, mas descobriu depois que o cara havia sido internado. Ficou tudo resolvido e tempos depois se encontraram na Passeata de São Paulo. O Kaká do Bar do Raul fez a apresentação dos dois. São amigos até hoje.
Foi através do Vitoriano que o Sylvio Passos esteve aqui em Ceará-Mirim/RN, fazendo parte do projeto “Você pergunta , o Pluct Plact Zum responde”.
Da primeira aterrissagem da nave do Sylvio Passos em Ceará-Mirim eu guardo um momento de luz. Vinha eu do trabalho, à noite, rumo a minha residência, e lá estão uns malucos sentados na calçada do Bar de Tonha. Reconheci o cara de imediato. Foi aquela alegria, aquela apresentação e esse encontro foi registrado pela câmera do meu celularzinho peba da época. E a fotógrafa foi a Tonha. Devo isso a ela e devo o encontro a Vitoriano.
Wilson Aragão, parceiro de Raul Seixas na icônica “Capim Guiné”, que para mim é a cara do Vitoriano cantando nos palcos aqui da cidade de Ceará-Mirim, ele o conheceu na cidade de Salvador, tempos atrás, e chegaram a cantar juntos em Brasília, e há informação de que as duas vozes casaram muito bem.
Com Vivian Seixas, filha de Raul, a “Vivi Pipoquinha”, como a chamava carinhosamente dona Maria Eugênia, e a Janaína Seixas, filha do Plínio Seixas, único irmão do Raul, o encontro se deu em Salvador, no ano de 1991. Anos depois voltaram a se encontrar em Brasília e São Paulo, onde Vitoriano fez uma participação no show da moça.
Outro encontro marcante foi com Edy Star, parceiro do Raul, Sérgio Sampaio e Miriam Batucada, no trabalho de vanguarda, o disco Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, e se deu em 1994.
Vitoriano conta que sempre que se encontra com Edy, na Augusta do Bar do Kaká, pergunta quando ele vai aparecer em Natal/RN, e ele responde sorrindo: “Menino, eu não gosto de sal. O que danado eu vou fazer em Natal?”
Zé Geraldo – A conversa com o poeta de Rodeiro, Minas Gerais, rolou no camarim de uma passeata, em São Paulo. A Vitoriano Zé Geraldo revelou que sempre foi mais fã do Raul Seixas do que mesmo amigo. Nas conversas que tinha com Raul falava pra ele que era muito seu fã, e Raul respondia que ele que era fã do Zé Geraldo, e que a música Cidadão (Lúcio Barbosa), eterno sucesso do Zé Geraldo, era muito parecida com as suas. Zé Geraldo retribuía dizendo que Cachorro Urubu era uma das suas preferidas. Inclusive o Zé a gravou, primeiramente no disco de estúdio, Aprendendo a Viver, de 1994, e depois em outros discos ao vivo.
Claúdio Roberto – parceiro de Raul Seixas em tantas canções marcantes. O primeiro encontro foi em Ceilândia/DF, na casa de show O Cantador. Cláudio pediu um “beck” a Vitoriano, e o Sylvícola falou que ele não fumava. Ao que o Cláudio retrucou: “dá o jeito, aí!” E Vitoriano, para não decepcionar, saiu no meio da multidão, era mais de 6.000 pessoas, farejando até sentir o cheiro da erva venenosa, e ai perguntou para o dono da fogueirinha de papel se poderia conseguir um cigarrinho para o Cláudio. E o cara perguntou quantos ele queria. Resolvido. Levou para o Cláudio Roberto que ficou tão feliz que deu aquele abraço no Vitoriano. E ainda o pediu para acender.
E muito mais pessoas ligadas a Raul Seixas o Vitoriano conheceu nessas suas andanças: Dalva, Leno, Jerry, Elson, Mamão, Elton Frans e tantos outros que são conhecidos apenas no universo raulseixista.
“Vai!
Vai!
E grita ao mundo que você está certo.
Você aprendeu tudo enquanto estava mudo...”
Eliel Silva, 25.06.2024