A Fonte
Hoje
no final da tarde eu passava ali pela estação ferroviária e ouvi o
barulho de uma máquina que trabalhava lá pro lado do olheiro. Também
"olheiro" que sou, e nutrindo um certo carinho por aquela fonte, fui dar
uma olhada. E lá estava o velho olheiro se contorcendo em meio as
pedras e troncos e muita lama. Há alguns dias ele vem tentando uma
"toalete", querendo voltar ao que era antes. E pelo que vi no projeto
vai ficar até mais bonito. Bom, o que eu quero mesmo é que ele ressurja
para o nosso deleite, para as nossas lembranças. Quando menino eu tomei
muito banho nas suas águas. Aproveitava a saída de seu "Pirráia" para
almoçar e fazia a festa. Foi muito triste ver a demolição da antiga
casa, o seu aterramento e, por arte do diabo, talvez, a incabível
proibição das lavadeiras usarem as suas águas para a lavagem de roupa. E
assim, nesse processo de abandono, de descaso, a fonte foi ficando
esquecida, morrendo a cada dia, de gestão em gestão. Seu olho d'água, de
tanta metralha que jogaram lá, hoje lacrimeja de forma diferente,
sufocante, mas ainda encontramos uma vazão que faz jorrar água pelos
velhos canos. Feito um fiscal anônimo e não oficial, vou acompanhar de
perto todo esse processo de restauração, torcer e vibrar a cada ato de
progresso que ali se der.