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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Curtas

Eis que a orquestra executa um número musical tenebroso, não necessariamente como está escrito na partitura, mas sob pressão do seu regente. (Eliel Silva - 20.06.2017)

sábado, 17 de junho de 2017

Crônica de junho


MARIA FLOR

Maria cultivava flores em seu jardim. Na vida cultivava amigos. Ela tinha vindo de uma terra árida. Na infância quase não brincou, e chegou a passar fome. Mas tinha fé, como todo bom sertanejo, e logo passou a frequentar a igreja assiduamente. Mais tarde, se casou e teve cinco filhos. Três deles a morte lhe poupou. E os criou, junto a seu esposo, homem bom, trabalhador e honesto. Ele nunca aprendeu a ler e a escrever. Ela foi um pouco além. Viveram muitos anos. Depois que ele se foi, e com os filhos já criados, um deles meio crente e meio ateu, Maria adoeceu. Na sua (des)confiança, o filho mais novo ia no quintal e se ajoelhava. Dizia coisas para o espaço. Maria Flor passou a enxergar a vida de uma forma confusa. Muitas coisas se misturavam em sua mente. Passado, presente. Parecia resignada, e assim ela não aparentava sofrer. Mas foi tudo muito rápido. Em apenas quinze dias, a "Madona de Cedro" definhou. Amigos fizeram correntes de oração, políticos fizeram média; seus filhos, penitência. Nada a conteve. Nada a fez ficar aqui. Em silêncio profundo Maria se foi... Ela que fazia tanto, por tanta gente. Ela que acolhia bons e maus, vai-se sem companhia. Mas nem percebia. E nessa peça que a vida lhe pregou, Maria encerrou o seu ato. Hoje ela descansa em paz na morada final. No seu túmulo, que ela mesma mandou construir, apareceu uma fenda. Nela um arbusto brotou, e dele uma flor. (Eliel Silva – junho de 2017)