"Esperando a
condução, meu pensamento divagou... comprei bilhete para o céu, mas outro rumo
ela tomou. A condução é minha vida... Conduzi-me Senhor, à estação do teu
amor..." Começo esta postagem, nesse momento triste, citando esse trecho
de uma canção do Pe. Zezinho, uma das preferidas da minha mãe. E é com muita
dor e tristeza que comunico aos amigos e parentes o seu falecimento, ocorrido
hoje (22/08/2016), às 14h50, no Hospital Walfredo Gurgel. O seu corpo frágil
não resistiu a tantas complicações causadas pela pneumonia que lá ela
contraiu quando foi para tratar de uma fratura do fêmur. É triste, mas é
verdade. O seu corpo está sendo velado em sua residência, na Rua Rio Água Azul,
nº 23 - próximo a Praça da Intendência -, e amanhã haverá missa de corpo
presente às 16h e logo em seguida o sepultamento no cemitério Santa Águeda.
Quero agradecer a todos pela força, carinho e atenção. "Combati o bom
combate, acabei a carreira, guardei a fé." (2 Timóteo 4:7) – Eliel Silva
22/08/2016
Algumas vezes, quando
nos falta o chão, pode ser porque algo em nós está atingindo as alturas em
busca do céu. Tenho sentido isso nesses últimos dias. Aos amigos que procuram
por notícias da minha mãe, eu quero dizer que o quadro dela no momento é muito grave.
Àquela senhora que, apesar da idade e dos atropelos da vida, aparentava certa
disposição, e muitos são testemunhas das suas caminhadas pelas ruas da cidade,
seja comigo, com a minha irmã, ou com a cuidadora, pois bem, hoje incorporou uma paciente em estado crítico, num leito de
hospital, onde contraiu uma pneumonia que, segundo os médicos, foi se agravando
para outros órgãos. Nós, familiares, estamos com a consciência tranquila no que
diz respeito aos cuidados e procedimentos que sempre dispensamos a ela, claro
que, dentro das possibilidades de cada um de nós. Após sofrer uma queda, dentro
de casa, a levamos para o hospital, como muitos já sabem, e como o problema (as
dores e sem poder andar) permaneceu, como o próprio médico recomendou, lá
retornamos, onde foi feita uma avaliação mais precisa e constatada fratura do
fêmur. Daí o encaminhamento para o hospital Walfredo Gurgel, onde ela
permaneceu por cinco dias no corredor, sendo transferida para um anexo do
hospital João Machado, onde se constatou uma pneumonia. Diante do agravamento
do problema, transferiram mais uma vez a minha mãe para o Walfredo, onde há
especialistas nessa área. Acabei de visitá-la, onde pude chegar bem perto dela
cochichar no seu ouvido palavras de conforto e lhe pedir para ficar em paz (se
é que isso é possível) e que fosse feita a vontade de Deus. Bem sabemos como
anda a situação do atendimento nesses hospitais públicos, mas não vamos
procurar culpados num momento desses, isso é um assunto delicado, prefiro
chorar a nossa dor e pedir a Deus alento para as nossas vidas e misericórdia
para com essa sua serva, mulher franciscana e que sempre foi tão igrejeira.
Perdoem-me os mais patriotas, posso estar sendo egoísta, pensando apenas em
mim, mas agora eu já nem mais lamento as medalhas que o povo brasileiro vem
deixando de conquistar nas olimpíadas, lamento a perda da nossa dignidade de
seres humanos, isso sim, é puro ouro. Agradecemos a todos pela força e pedimos
orações. (Eliel Silva – 19/08/2016)
"Agora eu sei
O que é uma flor desesperada..."
("Paisagem da Flor Desesperada" - Ismael Semente / Gravação: Zé Ramalho)
O que é uma flor desesperada..."
("Paisagem da Flor Desesperada" - Ismael Semente / Gravação: Zé Ramalho)
Eu sentia uma angústia danada toda vez que por ali passava e via
aquilo tudo num desespero silencioso. E me admirava da resistência daquela e de
outras plantas daquele jardim. Foi uma das últimas que plantei, antes das
portas se fecharem de vez. Símbolo de resistência, como tudo ali naquele lugar,
ela se deixou levar pelo tempo. Finalmente com a casa restaurada, muito bela por sinal, chega o grande dia, melhor
dizendo, a grande noite. E noite de festa. O momento é nobre, a razão é justa.
Revejo velhos e bons amigos. Adentro o seu espaço e contemplo o seu moderno
jardim, que já não lembra tanto aquele de tempos atrás, sob os cuidados de seu
Francisco (de saudosa memória). Aliás, depois dele, um outro Francisco por ali
passou, e fez o que pode, mas não demorou, foi para outra casa. Então eu
decidi, aos poucos, e do meu jeito, contando com os poucos recursos que
dispunha ali, dar seguimento aos cuidados daquele místico jardim. Mas a noite
foi mesmo de festa. Teve música e poesia (se faltou o pão, este nos veio em
forma de contentamento pela volta daquele espaço). Teve pronunciamentos (o que
é de praxe), apresentações e exposição. Num canto da casa, calado feito pedra,
eu observava tudo. E não me cansava de admirar a beleza daquele lugar.
Realmente ficou muito linda a nossa casa do saber. Deixei que a solenidade se
encerrasse e então ao sair fui até aquela plantinha, teimosa, querendo brilhar
também naquela noite em meio a tantas estrelas, e em tom de brincadeira cantei
baixinho pra ela: “Boa noite, rainha, como vai?!” Mais sério indaguei: me diga,
o que você fez para resistir tanto tempo sem os meus cuidados? Eu que por esses
dias me desesperei, gritei, esbravejei, escrevi cartas para autoridades que
nunca foram postadas, quase morri de tanta dor... Simples assim, ela me
respondeu: em silêncio, fiquei aqui a ti esperar! (Eliel Silva - 12.08.2016)
Boa tarde
amigos e amigas! Gostaria de agradecer, em meu nome, em nome da minha irmã, do
meu irmão e de toda a família o apoio que a gente vem recebendo de todos vocês,
desde aquela minha última postagem relatando o ocorrido com a minha mãe. Quero
tranquilizar a todos e dizer que, apesar dela ainda se encontrar no corredor do
hospital, está sendo cuidada, na medida do possível, e aguardando uma vaga na
enfermaria que acreditamos ser resolvido esse problema até amanhã. Vocês não imaginam a força que nos deram com toda aquela
manifestação a partir do meu relato: mensagens, telefonemas, curtidas...
solidarizando-se e/ou indignando-se com a situação. Lamento, infelizmente, o
silêncio, a frieza e a insensibilidade de alguns que, por razões que
desconheço, ainda insistem em ser nosso "amigo" de face. Quanto ao
quadro da minha mãe, sabemos a quantas anda a saúde do povo brasileiro, e, como
se diz no popular: "não se pode descobrir um santo pra cobrir outro".
Nesse caso, só nos resta mesmo aguardar e ter fé em Deus. Dona Suzana é forte.
Ela vai superar mais essa provação. Aproveitando o clima de olimpíadas,
gostaria de dizer a vocês que se dependesse de mim, todo ouro ficaria com esse
povo do nosso Brasil, não necessariamente os atletas, mas essa gente
batalhadora que luta pela sobrevivência e ainda consegue ser solidária.
Obrigado mesmo. Viva Jesus! (Eliel Silva - 11/08/2016)
***
Agosto, eu
estava certo. Você me mete medo, me atormenta e me apavora. O sufoco que temos
passado, desde o seu primeiro dia, quando a minha mãe sofreu uma queda e de lá
pra cá tem sido um sofrimento para ela e para nós não estava marcado no
calendário. Hoje, finalmente o diagnóstico: fratura no fêmur. E então começa a
nossa via crucis. Encaminhada para o Walfredo Gurgel, após os primeiros
procedimentos, a constatação de que a minha mãe, do alto dos seus 84 anos de
idade, ficará internada e aguardará uma cirurgia. Pior, sem leitos
disponíveis, ficará no corredor. Pior ainda: não havia maca. E lá estava a
minha pobre mãe, sendo levada por mim para um lado e para o outro numa cadeira
de rodas. Indaguei de um profissional como ficaria a situação dela, com fratura
no fêmur, ter que ficar no corredor numa cadeira de rodas. A resposta que ele
deu me soou tão desconfortável que me doeu como uma fratura na alma. Ele disse:
é o que temos! E começou a por a culpa vocês sabem muito bem em quem.
Sinceramente, não sei como existe gente que se aproveita da culpa de outros
para tratar as pessoas com tanta frieza, achando talvez que agindo assim fica
isento de pecado. E aí o cara me entrega a papelada e diz simplesmente: pronto,
pode ir pro corredor! Falei: vamos lá, mamãe, vamos pra manjedoura. Deus está
vendo. Nisso me encontro com um maqueiro, moreno, alto, que em nada me pareceu
um anjo, exceto o seu silêncio, mesmo assim resolvi arriscar: amigo, a minha
mãe está com fratura no fêmur e não vai suportar ficar numa cadeira de rodas
por muito tempo. Veja se o senhor consegue uma maca para ela. Com poucas
palavras ele me disse: vou ver se consigo. Não deu dez minutos e lá vem um
anjo, alto, moreno, calado, com uma maca. Foi a nossa sorte. Agradeci
imensamente e ainda prometi a ele: quando for a Ceará-Mirim, me procure pra
gente comer uma rapadura. Talvez inconscientemente naquele momento eu quis
adoçar o amargor daquela situação. Me esqueci que nem mesmo rapadura temos mais
por aqui. Deus dê força a minha mãe, para segurar mais essa barra. Abençoe
minha filha que está lá com ela, e a todas as pessoas envolvidas nessa luta.
"Por tudo demos graças a Deus!" Amém. (Eliel Silva – 08/08/2016)