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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

segunda-feira, 7 de julho de 2025



"A amizade sincera
é um santo remédio,
um abrigo seguro.
É natural da amizade
O abraço, o aperto de mão, o sorriso..."
Renato Teixeira

Eu o conheci lá pelos idos de 1980. Jovem como eu, cheio de planos e de sonhos, e uma certa rebeldia discreta no agir. Seu sonho era ser ator. E Global. Até chegou a ir para o Rio de Janeiro aventurar uma colocação. Tempos difíceis. A concorrência era grande, pra variar. Voltou desiludido. Mas seguiu o seu caminho sonhando. Bateu muita bola com amigos em comum no campinho em frente ao cemitério. Mas o seu objetivo era ser ator. Atuou por aqui em algumas peças teatrais. Visitava sempre a casa dos meus pais, onde eu morava nos tempos de então. E foi numa dessas visitas, numa tarde, que me veio a vontade de escrever algo sobre ele. E assim o fiz.
Mas chegou o tempo de Joãozinho (Melo) batalhar algo mais real, deixar um pouco de lado a fantasia. A sua caridosa "tia" Luiza, que o acolheu, também já estava cansada. Foi quando arriscou um concurso público e para sua sorte, conseguiu um lugar. Foi ser vigilante. Mas a sua mente andava confusa. Tantas ilusões perdidas. Viciou-se em coisas ilícitas e começou assim o seu calvário. Por generosidade, alguns gestores o mantiveram no emprego, na prefeitura, mesmo ele não mais cumprindo com suas obrigações. Mas entenderam que se tratava de uma enfermidade grave. A sua mente estava em outra esfera.
E assim passou a perambular pelas ruas da cidade. Cajado na mão, barba longa, roupas surradas, olhar perdido no tempo... Por muitas vezes me esbarrei com ele, como nesse momento da foto, na rua Heráclio Villar. E eu me lembro que era fevereiro de 2020. A cidade estava deserta, mas nós estávamos a postos. E o tempo foi se passando. Ele foi se mudando de local de "pousada". Mas sempre que nos encontrávamos era aquele papo, as vezes meio desconexo. E então seguiu-se o silêncio. Onde anda Joãozinho?! Eu perguntava a pessoas que eu sabia ter alguma conexão com ele. Me diziam várias coisas: estava morando numa casa não sei aonde; estava internado, em tratamento. E o tempo foi passando veloz, feito um trem impiedoso. Um amigo um dia deu uma luz: procure saber no comando da Guarda Municipal, ele faz parte do quadro de funcionários. Certamente irão informar. E assim eu fiz. Me encontrei com uma amiga que faz parte da instituição e indaguei. Ela me disse que ele havia falecido. E que já fazia um certo tempo. Fiquei parado. Extasiado. Não tanto pelo acontecido, porque já era de se esperar, uma vez que ele se encontrava muito debilitado, mas muito me estranhou a ausência de um comunicado nas redes sociais. Tá certo, ele não era (como um vez sonhou) uma celebridade, mas era um ser humano, com um coração que batia como o de todos nós. O pano se fechou e eu não consegui acompanhar a atuação do meu amigo ator nesse seu último ato. Coisas da vida! Sozinho agora, na plateia e fora do tempo, vou aplaudir mais uma vez meu amigo Joãozinho, Melo, o ator, o profeta...

OH! MEU AMIGO
Oh! Meu amigo
Esse teu jeito tão simples de caminhar
Faz a cabeça desse teu fã que quer te acompanhar...
Oh! Meu amigo
As tuas vestes fazem vibrar todo o meu ser
E teus cabelos soltos ao vento
Na esperança me faz crer.
És a flor do cacto, planta do sertão
Que suporta a seca, esse bicho papão
És um rio que transborda lá no mar
Mas sem pressa de chegar.
Oh! Meu amigo
Essa mania de apertar a minha mão
E o som bonito dessas tuas sandálias
Arrastando a vida pelo chão.
Oh! Meu amigo...
(poema dedicado ao meu amigo Joãozinho Melo, o ator)
Eliel Silva, 01/01/1984
* João Maria Melo - Falecimento: 20 de maio de 2024.

terça-feira, 27 de maio de 2025

 


"Nós vamos lembrar momentos legais
Um gesto, uma nota, uma ideia
Momentos intensos
Momentos demais
Momentos imensos
Mentiras reais." 🎶
("Nossos Momentos" - Caetano Veloso)

Mais uma cena do cotidiano simples e sem maquiagem. Meus amigos Paulo e Nilênio numa manhã sem pressa de passar.

📸 O crédito da fotografia é de uma jovem senhora que passava na rua com seus dois filhos, vindos certamente do postinho de saúde.


 


Entardecer na cidade, ao passar ao lado do Santuário de Nossa Senhora da Conceição me deparei como essa imagem que me fez lembrar as obras do Antônio Francisco Lisboa, nas Minas Gerais. Mas se tratava mesmo do meu amigo Raminho Nascimento, com seu inseparável violão, tirando um som à luz crepuscular. Isso em si já é uma poesia. Salve! 🙌👏


sábado, 18 de janeiro de 2025


 Café amargo

Hoje eu estou triste. Fui informado, logo cedo que a minha ex colega de trabalho e uma verdadeira amiga e irmã para mim, nos deixou. Maria Oneide (a Neidinha do 15º NURE, do Centro Escolar, da DIRED). Segundo informação que tive, ela foi encontrada em casa, ontem a noite, já sem vida. Ultimamente ela morava sozinha.
Sobre a nossa amizade e parceria no trabalho, começou no ano de 1989, na criação do 15º NURE. Trabalhávamos juntos, no Setor Pessoal. Ela, encarregada do famoso "Malote", que levava e trazia da Secretaria, em Natal, documentação dos funcionários e escolas da jurisdição. E haja processo! Oneide era aquela funcionário dedicada, debruçada nos Diários Oficiais e Boletins que chegavam, todos com as letras bem miudinhas, e ela com uma lupa "catando" alguma coisa que fosse do interesse dos funcionários das escola ligadas ao nosso NURE. Entre 1990 a 1993, trabalhamos em repartições diferentes, mas no ano de 1994, graças a boa vontade de dona Janete Medeiros, então diretora do órgão, voltei ao 15º NURE, que na sequência foi mudando de nome e de gestores, mas lá permaneci até 2004, desempenhando o mesmo ofício com a amiga Oneide. Em seguida saí para uma escola, onde permaneci até me aposentar. Oneide se aposentou trabalhando no mesmo lugar em que começou.
Quando a gente se encontrava na rua era aquela alegria, aqueles abraços e aquelas risadas. Combinamos dela vir aqui em casa para tomarmos um café. Ela amava Lia. Esse encontro nunca aconteceu. Ficamos nos devendo. Mas agora isso já não tem mais importância. Com açúcar e com afeto eu vou ter sempre essa grande amiga nas minhas lembranças. Segue a vida... 🙌
Nota: Na foto, Oneide é a moça de blusa listrada, que está coladinha em mim. 😘😘

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025


E na brincadeira hoje já são 2 de janeiro. O tempo voa mesmo... Estou aqui, erguido, feito aquela escultura do missionário, mas sem os méritos dele, claro; feito aquela torre de telecomunicação, mas sem a sua base de concreto e ferro. No entanto, sigo vivendo. Fazendo a minha parte. O ano pode seguir triturando os dias. Isso não me preocupa. Já pendurei a folhinha do calendário na porta de trás. E daí?! Simplesmente vou riscando os dias...