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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Do Face VI




IN THE BEGINNING

E apesar de exibir uma estranha aparência do "abominável homem de preto", fui muito bem recebido por velhos e novos amigos, no estúdio para a gravação de um vídeo de Ruy Lima, nesse dia 29 de novembro de 2014.
Viva o bom e velho Rock and Roll!


Do Face V





"Esses seus cabelos brancos, bonitos / Esse olhar cansado, profundo / Me dizendo coisas..."

AQUELE HOMEM DA ESTAÇÃO

Quem haverá de decifrar os segredos e mistérios daqueles trilhos?! Trilhos que formavam trilhas para tanta gente. Quantas pessoas por ali passaram, acomodadas num vagão de trem, na ânsia de chegar a destinos tão diversos. E aquele homem incansável, correto em sua missão, todo santo dia estava ali, com sol e chuva, no sereno, cumprindo a sua obrigação. Sua função? Guarda Chaves. Mas que chaves esse homem guardava mesmo? As chaves de acesso aquele trem, carregado de tantas vidas. Quantos encontros e quantas despedidas naquela estação aquele homem presenciou. Quanta correria na lida do dia a dia.
Até parece uma ficção muito bem escrita, mas é uma história real. O tempo e o progresso, se é que se pode chamar essas mudanças de progresso, se encarregaram de virar a página. E o capítulo seguinte parece desolador. A estrada de ferro, a estação, aquele homem... Fica difícil hoje encarar tanta ruína. Mas o que fazer, se a vida tem dessas coisas?!
Agora resta a “seu” Daniel, do alto dos seus 93 anos de idade, completados nesse dia 22 de novembro de 2014, encarar os desvios dessa estrada e esperar o sinal do Mestre maior que o guiará ao destino definitivo. E me permita confessar: hoje a sua lucidez nos faz muita falta. Mas, há que se entender, há que se aceitar, pois se a locomotiva daquele tempo, com ferro e aço em sua composição, já não tem força de prosseguir a jornada, imagine você, meu caro Daniel, com esse seu coração de porcelana e alma de um cristal tão delicado. É chegada a hora de estacionar. E com isso vão-se as lembranças do passado, vai-se o vigor de uma juventude tão distante. Imagens de toda uma vida se misturam em sua mente formando um emaranhado de coisas hoje indecifráveis. É o sinal do tempo em você. Sempre que vejo o nosso lar ameaçado, penso na sua sabedoria muito simples que sempre dava um jeito nas coisas.
Grande “profeta” Daniel, parabéns pelos seus 93 anos de idade, e a maior parte deles, dedicada a sua gente. E obrigado por tudo que aprendi com você.
A vida é mesmo assim. Ela é uma grande estação. Lugar de encontros e despedidas.
(Meu pai, o senhor Daniel Ferreira da Silva, é um ferroviário aposentado. Trabalhou durante trinta anos nas estações de trem das cidades de Taipu e Ceará-Mirim)
Aqui a homenagem desse seu filho que sonha em ter um dia essa sua dignidade. Beijo, Bob Pai!
(Eliel Silva – Novembro de 2014)

Do Face IV





“EU CONHEÇO BEM A FONTE QUE DESCE DAQUELE MONTE, AINDA QUE SEJA DE NOITE...” (“Água Viva” – Raul Seixas/Paulo Coelho)

Impossível imaginar uma máquina que faça o tempo voltar e, em pouco mais de três minutos, etapas da sua vida serem projetadas da sua memória para um telão surreal. Pois sim. Meu cérebro, mesmo já tão calejado, me possibilitou esse filme quando vi o amigo Erivan Lima pisar o palco do Teatro Riachuelo, naquela noite de 19 de novembro de 2014, na 12ª edição do Prêmio Hangar de Música, cantando, até então como convidado, a canção do Raul Seixas “Por Quem os Sinos Dobram”: “nunca se vence uma guerra lutando sozinho...”, dizia ele na canção. Penso que outra música não seria tão apropriada para aquele momento. E há que se ser muito “maluco beleza” mesmo para segurar a emoção até o fim. Foi uma viagem que durou o tempo da canção. Tudo muito rápido, porém, de maneira tão clara, aquelas lembranças me vieram à mente. O pequeno palco do Centro Esportivo e Cultural de Ceará-Mirim, naquele agosto de 1990. O equipamento de som da Banda Forró do Povo, precário, alugado na esperança de, através de pequenas doações das pessoas presentes aquele evento primeiro, pagarmos o valor combinado. A exposição, que foi preciso montar ainda na noite anterior, o que nos obrigou a dormir no clube, para garantir a guarda daquele acervo tão raro. O primeiro cartaz, tão minúsculo, que só não podia ser comparado com a nossa vontade de fazer aquela festa dar certo. E aconteceu. Amigos, dessa vez bem mais unidos, por um objetivo: homenagear o grande maluco beleza que partira, por aquela data, no ano anterior. A experiência do primeiro nos impulsionou a seguir adiante. E a cada ano, apesar dos problemas internos, a falta de apoio e descrédito do nosso trabalho por uma parte da sociedade local (até de maconheiros éramos taxados), o evento cresceu de uma forma que talvez hoje já não caiba num “sonho que se sonha só”. E eis que vinte e cinco anos depois, vem o reconhecimento de um trabalho tão sincero e tão honesto: Erivan Lima, recebendo na capital do Estado do Rio Grande do Norte, o Prêmio Hangar de Música. Hora de lembrarmos de toda aquela gente que participou do Tributo a Raul Seixas, na cidade de Ceará-Mirim, ao longo de todos esses anos. Lembrarmos do pequeno palco do C.E.C., de seus presidentes que sempre nos abriram as portas e nos deixaram a vontade, hora também de fazermos nossa reverência a todos os músicos que por ali passaram, aqueles que não mais tiveram oportunidade de mostrar a sua arte, aqueles que já pegaram o trem para o além... Meu caro amigo Erivan Lima Seixas, você merece tudo isso e muito mais, porque, “podem voar mundos, morrer astros”, esse prêmio é seu, é meu, é de todos nós. Parabéns! (Eliel Silva - Novembro de 2014)