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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

sábado, 30 de janeiro de 2010

No campo de centeio

O Apanhador

J. D. Salinger (1/1/1919 - 27/1/2010)

O desenho que eu postei aqui não tem nada a ver com a matéria, (ou será que tem?!). Eu apenas o encontrei quando folheava o livro O Apanhador no Campo de Centeio, que achei oportuno agora reler. Essa obra de arte (o desenho) foi uma criação da minha filha, quando era bem pequenininha e fazia o Jardim III. Estava lá, entre as folhas do livro, talvez marcando alguma página que eu quis destacar e que agora já não me recordo o assunto. Mas foi bom encontrar essa relíquia porque ela faz recordar um tempo bom.
Mas vamos ao escritor.
Me interessei pela leitura desse livro por influência de quem? Dele, o Bob. Dylan certa vez ficou tão impressionado com o personagem Holden Caulfield que pretendia interpretá-lo no cinema. Mark David Chapman, o assassino de John Lennon, no dia em que cometeu o crime carregava no bolso esse livro. No filme Teoria da Conspiração, um psicopata, vivido por Mel Gibson, tinha uma compulsão: comprar diariamente um exemplar desse livro. Ainda, o atirador que tentou matar Ronald Reagan em 30 de abril de 1981, confessou ter tirado do livro inspiração para cometer tal ação. E quanto a mim, que diabos a leitura desse livro me causou? Nada! Li, curti, viajei, pois ele é puro rock and roll, mas foi só isso. Será que eu sou normal? Desse mesmo autor tenho também Nove Estórias. Gosto do seu estilo. E gosto mais ainda do seu mistério pessoal. Essa coisa de se isolar, de ficar recluso por todo esse tempo, enquanto todos tentam bisbilhotar a sua vida, isso me fez gostar dele mais ainda.
Margaret A. Salinger
Agora que o homem se foi a sua alma encontrará descanso - ou não. Talvez mais do que nunca procurem desenterrá-lo. Joyce Maynard, sua ex-amante e Margaret A. Salinger, sua filha, já deram o pontapé inicial. Sinceramente, acho que J. D. Salinger não vai descansar fácil, não. Ainda vai ter muito que apanhar, mesmo depois de morto. Se, como se diz por ai, o inferno é aqui, bem-vindo a ele. A história está apenas começando.

Créditos das fotografias:
J. D. Salinger e Margaret A. Salinger: da internet
Desenho: Bel

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Hoje

“E a gente vai à luta
E conhece a dor
Consideramos justa toda forma de amor.”
(Lulu Santos)


Me Leve (Cantiga Para Não Morrer)
(Ferreira Gullar)

Quando você for-se embora
Moça branca como a neve
Me leve, me leve

Se acaso você não possa
Me carregar pela mão
Menina branca de neve
Me leve no coração

Se no coração não possa por acaso me levar
Moça de sonho e de neve
Me leve no seu lembrar

E se aí também não possa
Por tanta coisa que leve
Já viva em seu pensamento
Moça branca como a neve
Me leve no esquecimento

Pra você, ruiva, a nossa homenagem. Parabéns!
De: Eliel, Isabel e Israel
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Nesta data quem também está de parabéns é o nosso amigo Waldeck Moura, titular do Blog Grande Ceará-Mirim e diretor da Fundação Nilo Pereira. Como diria a turma do Renato (o Russo): Força sempre!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Amigo é...

Pão e Poesia


"Felicidade
É uma cidade pequenina
É uma casinha, é uma colina
Qualquer lugar que se ilumina
Quando a gente quer amar"
(Pão e Poesia - Moraes Moreira / Fausto Nilo)


Edvaldo e Francisca, parabéns pelo aniversário de casamento


Ceicinha, obrigado pela presença em nossas vidas

D'além-Mar

"Meu diário! Com personagens, fotos, começo, meio... mas não terá fim! Ainda decorrerá! E talvez mais tarde, sentarei a contemplar o sol e a recordar, de novo, tudo o que aconteceu. Conto vários fatos que ocorreram ao longo da minha existência, inclusive a minha forma de pensar diante de algumas circunstâncias da vida, para que assim, outras pessoas possam saber. Chorarão e sorrirão juntamente comigo. Sentirão e interpretarão da mesma forma que eu, uma história de vida alegre, triste, quente, fria... Porque a vida é um filme! Minha vida é um filme!" (TRECHO DO MEU FUTURO LIVRO).

Acho que estou reivindicando a escolha do destino que me pertence!
Ceicinha Câmara

Fotos: Eliel Silva

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Falando de amor...

I LOVE MY DOG

“Tem muita gente por aí
Que tá querendo levar
Uma vida de cão.
Eu conheço um garotinho
Que queria ter nascido
Pastor-alemão.”
(Rock da Cachorra - Leo Jaime
– Grav.: Eduardo Dusek)



I Love My Dog
Eu Amo Meu Cachorro
(Cat Stevens)
Eu amo meu cachorro tanto quanto eu amo você
mas você pode me deixar e ele sempre estará comigo

Tudo que ele quer é comida para dar-lhe força
Tudo que ele precisa é de amor e isso tenho para dar

Então, eu amo meu cachorro tanto quanto eu amo você
mas você pode me deixar e ele sempre estará comigo
Toda recompensa eu vejo em seus olhos brilhantes
Eu não preciso dum banho de água fria pra isso perceber

Eu amo meu cachorro tanto quanto eu amo você
mas você pode me deixar e ele sempre estará comigo

Eu amo meu cachorro tanto quanto eu amo você
mas você pode me deixar e ele sempre estará comigo
Eu amo meu cachorro, baby, Eu amo meu cachorro

*******

Ditadores (Como Diria Raulzito)
(Zé Geraldo)
Quanto mais conheço os ditadores
mais eu amo meu cachorro

Confinem os cabeças-pensantes em campos gelados
A corrupção é cria do homem
está por todo lado
Aumentam pedágios escolas TRU
“Trocentos” por cento de aumento no IPTU
“Tamo” nu!

Quanto mais conheço os ditadores
mais eu amo meu cachorro

Aprovam decretos por decurso de prazo
Botam os velhos na fila
Isso não vem ao caso
Os negros, os índios, os demais sem terra
Deixa pra depois

Uma boa ajuda aos contras
pra equilibrar as baixas
Debita isso tudo no Caixa Dois
Ora, pois

Mete fogo na mata
Mata o bicho
Joga o lixo atômico
No fundo de qualquer quintal
Não faz mal

Quanto mais conheço os ditadores
mais eu amo meu cachorro
Foto de Bono: Bel Silva

domingo, 24 de janeiro de 2010

Extra!

Amigo é casa

“Amigo é feito casa que se faz aos poucos
e com paciência pra durar pra sempre.”
(Capiba / Hermínio Bello de Carvalho)


Caro amigo,

Bom dia e bom domingo para você!

Tenho lido os artigos do blog. Tenho acompanhado sempre. Bom também porque me traz lembranças de pessoas da terra que vêm à tona. Como do Rui Lima. Gostei. Não convivi com ele, mas lembro da pessoa dele. Coisas da mente são coisas guardadas no fundo de um baú. Estão sempre lá, mas algumas vezes, ou na maioria das vezes, ou sempre, precisam ser despertadas. Ia te enviar dois textos essa semana que passou para você escolher algum. Mas quando fui procurar a foto para acompanhá-los, não achei, por esse motivo deixei para te enviar depois. Gostei também dessa lembrança do Elvis.
Falar nisso gostaria de te contar um fato e destacar outro: Eu praticamente só conhecia umas duas ou três músicas do Elvis. E o que via pelas imagens era um cara esquisito que gostava de usar roupas esquisitas. Dizendo no popular: não dava muita bola pra ele.
Acontece que em Agosto, em meio às notícias da morte do Michael Jackson, comecei a baixar algumas músicas do Elvis, fui baixando e fui gostando. Gostei tanto que hoje tenho todos os discos gravados por Elvis mais alguns extras de coletâneas. A partir daí, sempre que posso, tenho adquirido algum DVD, livro, revista, que fale sobre o cara. Praticamente só tenho ouvido o cara desde agosto, de vez em quando escuto outra coisa, mas sempre volto a ouvi-lo. Se a vida é feita de momentos, devo dizer que musicalmente, meu momento é Elvis.
Essa semana te envio os textos que prometi: os dois falam de música em forma de poesia.
Um grande abraço e boa semana.
José Flávio

sábado, 23 de janeiro de 2010

E por falar em saudade...

...onde anda você?!

Ruy Lima

“Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena.”
(“Dois e Dois: Quatro” – Ferreira Gullar)



Elvis não morreu! Essa é a impressão que se tem ao assistir as fitas daqueles tributos idealizados e produzidos por Ruy Lima. Sinto saudade daquele som “leve e solto” que rolava naquela festa democrática.


Hoje o cara anda meio sumido, e eu estou com saudade de ti, bicho! Por que cargas d’águas fostes te exilar voluntariamente nesse lugar de nome canto grande, quando o “canto grande” mesmo era você quem fazia por aqui? Aquela tua garra anda fazendo falta.


E já não importa se o resto do mundo era pequeno aos seus pés, eu até entendo a sua ânsia de chegar lá. Mas confesso que até mesmo para dar no pé você agiu como agem os velhos sábios. Era hora mesmo de cair fora. Na vida há um tempo pra tudo, como diz o Eclesiastes.


E você fez a hora, antes que ela acontecesse e te empurrasse para longe num momento em que você não queria partir. Muitas vezes lidar com bichos é bem mais fácil e prazeroso que lidar com gente. E você inventou de criar cavalos.


Hoje sabemos que o nosso “rock errou”, mas estamos aqui, sempre, como velhos e bons amigos. Pega a tua moto envenenada e nos faz uma visita de vez em quando. A gente te aguarda!


Fotos capturadas dos vídeos: IV e V Tributos a Elvis Presley
Organização: Ruy Lima

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Coletânea

Frases que me acompanham e um poema que eu guardei...


“Gosto das minhas diferenças, e sou capaz de brigar por elas.” - Marina Lima


“Faço força para ser exatamente como sou, mas todos querem que a gente seja como eles.” - Bob Dylan

“Há sempre uma ausência que me atormenta.” - Camille Claudel

“Fama é sempre uma coisa passageira. Ela pode durar alguns milhares de anos. Mas, considerando a eternidade, não é nada”. - Paulo Autran

“Deixa-me crescer no silêncio de minha aldeia. Sinto necessidade de meditar a minha vida.” Exúpery

“Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quando mais a corações de cera!” - Padre Antônio Vieira

“Em cada pessoa há uma parte de solidão que nenhuma intimidade humana pode preencher”. - irmão Roger de Taizé

“Aprenda, pois, aprendiz de marinheiro, a não lançar as âncoras antes da chegada ao cais.” - Ivone Aparecida Dias

“Não te dês inteiro um só momento porque um dia te quererás de volta e levarás somente um fragmento.” - Olga Savary

"A escada que tu sobes é a mesma que tu desces. Quem subiu pisando os outros os encontra no regresso." - Pe. Zezinho

“Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. - Fernando Pessoa


Poeminha do Contra
Mário Quintana

“Todos esses que aí estão
atravancando o meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!”

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Pequeno perfil de um cidadão comum

JOHNNY SOM


"João, o tempo
andou mexendo com a gente,
sim!"
(Belchior)


O meu conhecimento a respeito do Johnny Som vem da segunda metade dos anos 1970. Naquele tempo do Clube Ypiranga onde ele promovia memoráveis festinhas. Foi lá que numa bela noite eu tirei uma jovem pra dançar e embalados ao som da canção Sunshine On My Shoulders, do John Denver, parecia que estávamos protagonizando um papel digno de novela das oito, já em alta por aquele tempo. A ponto de o vocalista da banda descer do palco e cantar juntinho a nós, valorizando ainda mais aquele momento. E o Johnny, cujo sobrenome (apelido) fazia jus a sua profissão, era um incansável pesquisador e inovador na área de som e embarcou de vez numa nova onda quando do advento da discoteca. O Clube Ypiranga ficou pequeno para tanta gente que queria participar daquelas festas e, cada um a seu modo, e como podia, chegar quem sabe, o mais próximo possível das performances do John Travolta, no filme Os embalos de sábado à noite, ou da Sônia Braga na novela Dancin' Days. E foi assim que a discoteca do Johnny Som se instalou no Centro Esportivo e Cultural de Ceará-Mirim. Ali eu participei de várias matinês, o que a minha idade na época permitia. E sem querer bancar agora o Don Juan, um pé-de-valsa, ou coisa parecida, só queria relatar outro fato envolvendo a boa música daquela época. Naquela tarde de domingo, as potentes caixas de som tocavam uma música internacional daquelas que não deixam ninguém ficar parado. Não lembro qual era a canção, mas lembro que alguém lá na pista de dança quis se alterar por algum motivo. Johnny parou o som na mesma hora, fez um pequeno sermão e retornou com a programação. Só que ao invés de continuar tocando aquela música apressada, talvez de propósito, deixou rolar Não chore mais, com Gilberto Gil. Ora, eu que estava bem próximo a uma girl não me contive, peguei em sua mão e a tirei pra dançar. Soube depois que ela comentou com umas amigas que eu havia dançado com ela. Coisas de um adolescente: fiquei imensamente feliz!
De outra feita, aficionado por disco de vinil como sempre fui, visitei certo dia a lojinha que o Johnny tinha ali próximo à Rua da Cruz. Me encantei com o LP do Hermes Aquino, Desencontro de Primavera. Quis comprá-lo, mas ele disse que não estava à venda, mas poderia me emprestar. Quase não acreditei, aquele cara que nem bem me conhecia ia confiar me emprestar aquela preciosidade. Peguei o disco e corri para o estúdio do amigo Erivan que na mesma hora passou para uma fita cassete, que tenho até hoje, no outro dia no momento marcado, voltei à loja e lhe devolvi o LP com mil "muito obrigado".

Passado algum tempo, nessas idas e voltas que a vida tem, me encontro outra vez com o comunicador na 91 FM. Seu irmão, o Juscelino, apresentava um programa naquela emissora e de vez em quando me convidava para participar. E assim outros amigos também estiveram lá: João Palhano, Erinho, Giancarlo, Washington, Janaína. Pegávamos os nossos CDs e partíamos para uma viagem no tempo. As vezes o Johnny chegava por lá, meio enfezado e cortava o nosso barato, dizendo que naquele momento ia entrevistar alguma "figura importante" da cidade. A gente ficava chateado mas depois até que entendia, era preciso fazer o sonho acontecer, manter a emissora no ar, e só com aquele nosso sonzinho descompromissado seria difícil segurar o tranco.
Hoje existe um novo horizonte, não é Johnny?! Talvez ainda não à altura do que se mereça, se levarmos em conta os anos de batalhas que você viveu e enfrentou, sempre com muita garra e determinação. Vamos acreditar mais um pouquinho... E obrigado pelo espaço que você concedeu na 87 FM ao Edvaldo Morais para apresentar o programa Jovem Guarda Especial. Fui me infiltrando na programação e hoje eu já me sinto um tremendão (com muita humildade, que fique bem claro!). Ah, mas eu ainda sinto saudade daqueles jogos que você narrava, juntamente com Muniz, no estádio do Centro Esportivo e Cultural. Gostava de ver você "passar a bola" da locução para o outro companheiro, enquanto você se deliciava tomando um sorvete. Ai o Muniz mandava ver. Eita, tempo "bão"!

Créditos das fotografias:
Foto 1 - Paulo Costa
Fotos 2 e 3 - Eliel Silva

domingo, 17 de janeiro de 2010

Amigo é coisa pra se guardar... - Revisitado

D A V I D
(26/09/1953 - 17/01/2006)

"É tão estranho, os bons morrem jovens.
Assim parece ser quando me lembro de você
que acabou indo embora cedo demais..."
(Renato Russo)

Há exatos quatro anos o baixista dos Formigões, do Alma de Borracha e de tantos outros grupos e o preferido de muitos artistas da música cearamirinense nos deixava. David, o músico que não fazia cara feia quando convidado pra tocar e tocava pra todo mundo. Nas Igrejas, nos clubes, nos bares, nos quintais. Ele era assim...

David Faustino de Lima nasceu no dia 26/09/1953. Filho de José Faustino de Lima e Maria Raimunda Tomaz de Souza. Natural da cidade de Eduardo Gomes, veio para Ceará-Mirim no início da década de 1970, quando seu pai, pastor da Assembléia de Deus, foi transferido para essa cidade. Em 1974, conheceu Conceição Barros e passaram a namorar. Dois anos depois se casaram e dessa união nasceram seus filhos Fabiano, Alane e Luciana. David, que sempre demonstrou ser um apaixonado por música, mesmo depois do fim do grupo Os Formigões, continuou tocando por todos esses anos para qualquer grupo ou pessoa que lhe procurasse. Não fazia cara feia, não fazia charme – prática comum no cenário musical. Com o seu contrabaixo, instrumento que dominava tão bem, estava sempre disposto a tocar: fosse num bar, num clube ou mesmo numa igreja. Sua dedicação era sempre a mesma. Um dos grupos em que ele mais se identificou foi sem dúvida a banda Alma de Borracha, onde tocou até dezembro de 2005, sempre se sentindo em casa. E nesse seu último dezembro, por ocasião da festa da padroeira, para confirmar o seu senso de humor, vou fazer um pequeno comentário a respeito de um episódio que nos sucedeu: estávamos tocando em um quintal, num palco improvisado, com um equipamento de som horrível. David, com o seu inseparável e infalível contrabaixo, olhava pra gente, fazia uma careta e caía na gargalhada. Quando ele se emocionava era como um Grande Otelo: chorava e sorria quase ao mesmo tempo. Uma maravilha singular!

Contrariando os meus princípios, de não querer invadir a praia de ninguém, naquele janeiro do ano seguinte, eu estava disposto a passar um dia com o velho amigo na praia de Jacumã, onde ele costumava passar o veraneio. E já imaginava como seria aquele dia de sol, a gente biritando e tocando violão... Tarde demais! Já era inverno em nossos corações! No meu trabalho, naquele dia 17 de janeiro de 2006, recebi um recado de sua esposa avisando que ele havia passado mal e assim, após ter sido atendido em um hospital de Ceará-Mirim, teria sido encaminhado para Natal. Sinceramente, eu gelei! Mesmo sem querer admitir, senti naquele momento que seria o fim. É que eu já vinha temendo aquele momento há algum tempo, pelo que eu observava em seu estado de saúde. Saí do trabalho, fui pra casa e à noite me veio a notícia que eu não queria ouvir. Sua filha me ligou para comunicar o seu falecimento. Nessa nossa história tão real, David não foi astuto o suficiente para vencer o gigante, e foi vencido. Fiquei com a árdua tarefa de ligar para cada um dos componentes da banda Alma de Borracha e comunicar o fato. Com a morte de David, o sonho de banda definitivamente ficou sem sentido. A gente até tentou seguir em frente, o que até seria uma forma de homenageá-lo. Ledo engano! Só mesmo a presença do nosso rei David para apaziguar as coisas e acalmar os ânimos exaltados desses caras que teimam em brincar de músicos. É John, por aqui também, “o sonho acabou!” (Eliel Silva)
Texto original postado no Blog Chaminé
setembro de 2007
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Na foto acima, ele aparece tocando violão no Pepper Bar, que funcionava no início da Rua Oscar Brandão. Foi no lançamento do jornal do artista plástico Ruy Lima, Gazeta Cultural, em novembro de 1995. David apareceu por lá naquela noite. Chegou bem à vontade e já “pronto”, como era o seu jeito de sempre chegar. Lá pras tantas, ainda mais inspirado, pegou o violão e com dificuldade de acertar os acordes e a voz quase falhando, cantarolou duas canções que eram uma constante em seu repertório: Preta Pretinha, do grupo Novos Baianos e Chuva de Amor, do compositor cearamirinense Tita dos Canaviais. Detalhe: tenho esse registro em áudio, que também faz parte dos meus arquivos raros.

David tocou no I Tributo a Roberto Carlos, em abril de 2005. No ano seguinte ele foi homenageado por ocasião do II Tributo. A gente vai sempre lembrar desse cara quando todos aqueles momentos passarem em nossas mentes como num filme que a gente revê, as vezes pra sorrir e as vezes pra chorar.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

In the beginning...

Os Mortos Agradecidos

"Eu não sigo rabinos, pregadores, evangelistas, nada.
As músicas são o meu léxico, eu acredito nelas."
Bob Dylan


O que a gente não fez, nos primórdios daquele movimento underground, pelos palcos da vida só para poder tocar o bom e velho Rock ‘n’ Roll? Numa daquelas noites de domingo, do ano de 1990, com a maior cara de pau enfrentamos a platéia que lotava o Ginásio de Esportes Aderson Eloy de Almeida (o Palácio dos Esportes) para ver as atrações do programa O Domingo é Nosso, apresentado pelos bambas da comunicação Etevaldo Alves e Johnny Som. Ousadia era o que não faltava para aqueles “garotos” sedentos por aquele som que estava longe de ser tocado nas rádios e nos bares da cidade. E assim, naquele domingo que também foi “nosso”, eu, Giancarlo, Emanoel e Nêm decidimos encarar o público para mostrarmos o som despojado do fictício grupo Os Mortos Agradecidos.
De cara, quase que fomos barrados pelo proprietário da banda Raio de Luz, responsável pelo som naquela noite, pois ele temia pelo estado de conservação dos instrumentos da sua equipe, após serem usados por malucos de um grupo de rock. Foi preciso muita conversa para convencer o cara de que o nosso rock era maneiro, que não causaria nenhum dano ao seu equipamento de som. Chegou a hora da apresentação e o comunicador Etevaldo Alves, empolgado com aquela novidade, ao invés de anunciar o grupo como Os Mortos Agradecidos, gritou para o público: “Com vocês, Os Mortos Desconsolados!”, assim dificultando ainda mais a compreensão do público sobre aquele nome estranho de banda.
 
Foi uma farra. Até hoje eu brinco com ele, exigindo uma correção para aquela apresentação. Falo pra ele que um dia a gente repete o show para que o nome do grupo seja pronunciado corretamente. Tudo foi e será sempre apenas uma brincadeira. Não dava pra levar nada a sério naquele começo de tudo. Na verdade a gente surrupiou aquele nome da banda de rock estadunidense The Grateful Dead. Mas foi divertido aquilo tudo. De ameaçadores, passamos a ser ameaçados. Pra começar, a guitarra que o saudoso Cristóvão emprestou a Giancarlo estava faltando uma corda. Cristóvão só podia ser muito bom mesmo para tirar um som perfeito, como ele fazia, num instrumento capenga como aquele. A bateria era daquelas eletrônicas, muito usadas na época, e que não tinha nada a ver com o som do puro rock and roll. Mas Emanoel (filho do saudoso Etewaldo Santiago) mandou ver mesmo assim. Nêm, no contrabaixo, sem ensaio nenhum, pegando tudo na hora, deu umas chicotadas nas cordas, improvisando uma performance de roqueiro. Eu, tentando me esconder daquela maluquice, peguei uma velha e surrada capa de frio que o meu pai usava no trabalho, meti nesse meu corpo atlético, e ela quase me encobriu. Pra completar, usei também um chapéu meio amassado. Um verdadeiro papangu fora de época. Com meu violão e a minha gaitinha ajudei a turma a atacar com Walk of Life, do Dire Straits, para em seguida buscar nossa purgação ou condenação definitiva, tocando All Along The Watchtower, de Bob Dylan: “Deve haver maneira de sair daqui, disse o bobo ao ladrão, há demasiada confusão, não consigo estar tranqüilo.” Naquela noite voltamos pra casa felizes, orgulhosos daquela proeza, mas também com a certeza de que ninguém ali entendeu foi nada.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

As vezes a vida... Um autêntico BBB

Quem Me Levará Sou Eu

Ultimamente tem-se comentado em diversos blogs da cidade sobre a construção de casas para acabar de vez com os problemas de moradia na favela “Baixa do Rato”, aqui em Ceará-Mirim. Ação louvável, não resta dúvida! E esse fato me remete a um passado não tão distante. Lendo algumas matérias e opiniões à respeito, fiquei aqui falando com os meus botões, remoendo alguns momentos que vivi em gestões passadas.
Primeiro foi na gestão do Dr. Roberto Varela. Havia um projeto na época, de se construir casas populares para quem já possuísse um terreno. Fui informado que as inscrições estavam sendo feitas, por coincidência, na sede do órgão no qual eu era lotado. Me dirigi a tal secretaria, cheio de esperanças e fui tratado com indiferença, além do veredicto: “Não, aqui não existe isso, não!” Saí decepcionado, porém, como o sertanejo que é “antes de tudo, um forte”, de cabeça erguida. Mesmo sem casa e, depois dessa, também sem sonho. 
Outra vez já foi na gestão de D. Edinólia. Vários funcionários do município fizeram inscrições para concorrerem a casas populares que seriam pagas a preços ainda mais populares. A diretora (agora já era outra) da repartição em que eu trabalhava me encheu de esperança. Falou que cada chefe imediato apontaria o funcionário merecedor de tais casas. Então eu poderia ficar tranqüilo, pois em sua lista seria um dos primeiros. Como um menino bobo que apanha e nunca aprende, acreditei. Veio o dia da decisão e mais uma vez eu fiquei de fora. E o pior foi ver que pessoas que não precisavam tanto receberam as tão faladas casas. Descobri que a escolha foi feita considerando a militância de cada funcionário. O que a maioria fez dessas casas a população sabe muito bem.
Sei que pode parecer besteira eu agora ficar falando dessas coisas, mas a gente acaba revivendo esses fatos, queira ou não. Não desejei o mal pra ninguém, mas o tempo que é soberano e jamais perdoa ninguém, com sua lâmina impiedosa se encarregou de aplainar as coisas e nivelar nossos mundos nos anos que se seguiram. E assim a gente vai vivendo num autêntico BBB sem fim. “Por tudo isso se a terra treme, só quem não deve não teme”, já dizia o rei. Vou seguindo...

Crédito das fotos:
Casa do joão-de-barro: internet
Casa de maribondo e casulo: Eliel Silva

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Eureka!

O fim da infância


Esse é o mais novo disco da banda Tantra (novo, porém lançado no ano passado). Um dia eu assisti a uma apresentação do grupo no MADA (Natal/RN), gostei muito do som e ainda mais por ter contado com a participação do Marcelo Bonfá (baterista da Legião Urbana) naquela noite. Depois de algumas reformulações, agora o Tantra tem no vocal principal a irmã do Renato Russo, Carmem Manfredini. E a moça já chegou com moral, inserindo o seu nome ao nome do grupo. Não ouso fazer comparações, apenas posso dizer que me enpolguei com o novo som e com a voz da sister do Renato. Ela conta que quando seu irmão a ouviu cantar pela primeira vez, lhe detonou. Talvez isso fosse apenas birra de irmão. A verdade é que a sua voz agrada e cai muito bem para o estilo de baladas desse disco.

Fred Nascimento, Carlos Trilha, Gian Fabra e Carmem

 Carmem, que passou 23 anos dando aula como professora de inglês, nunca abandonou a música, paixão que dividia com o irmão que tinha tudo em termo de discos. Em Brasília, chegou a fazer parte de uma banda chamada Spirituals de Porco. Adotou um visual gótico à la Smith, do Cure. Sua amizade com o Fred Nascimento vinha desde os tempos em que ele foi guitarrista de apoio da Legião. Pintou o convite para o Tantra gravar Rocky Raccoon num tributo ao álbum branco dos Beatles e chamaram Carmem para o vocal. Ela acabou ficando na banda. O título do disco surgiu de um livro de Arthur C. Clarke, "O fim da infância", que Fred estava lendo naquele momento.

 Renato Russo e Carmem Manfredini

Estou curtindo essa minha nova descoberta. É um disco pra se ouvir por inteiro, sem pular nenhuma faixa. Ah, uma sugestão: ouça com muita atenção a balada Novembro, de preferência, à meia luz.

Novembro

(Fred Nascimento e Gian Fabra)

Era novembro mas estava frio
O céu estrelado na noite lá fora
Você me dizia que era Mercúrio
Falar sobre o tempo como eu faço agora

E a gente ria deitado na cama
Os astros cabiam no quarto do hotel
Enquanto cientistas faziam mil contas
A gente contava estrelas no céu

E velhas histórias de amores passados
O que machucava agora conforta
Te vejo tão pouco, nem sinto saudade
Mas quando eu te encontro meu mundo entorta

É como se o tempo fosse coadjuvante
De uma história que eu nunca vivi
Parece um filme: Sofia Copolla
Se eu não o tive também não perdi

E basta seus olhos cruzarem os meus
Pra eternidade passar num segundo
E toda alegria que antes ausente
Se espalha agora em volta da gente

Eu não tenho fotos, só tenho lembranças
Só guardo aquilo que eu sempre preciso
Você me dizia que achava singelo
Que em vez de pegadas eu deixasse sorrisos

Não há desencontros e nem despedidas
São muitos caminhos por onde vou indo
Eu não faço contas pro próximo encontro
Eu nunca estou pronta, mas sempre partindo

E basta seus olhos cruzarem os meus
Pra eternidade passar num segundo
E toda alegria que antes ausente
Se espalha agora em volta da gente

Carmem Manfredini & Tantra - "O fim da infância"
Carmem Manfredini - Vocal

Carlos Trilha – vocais e teclados
Gian Fabra – baixo
Fred Nascimento – vocais, violão, guitarra e gaita
Produzido por Carlos Trilha

sábado, 9 de janeiro de 2010

Crônica de estréia

Apresentação

Ilton Soares

Conheci esse rapaz já faz algum tempo, quando nós, eu, ele e tantos outros "malucos", nos esbaldávamos ao som dessas bandinhas de garagem, pelos Tributos da vida. Mas antes dele conheci seu irmão, o Inácio de Loyola, freqüentador assíduo do evento em homenagem ao Maluco Beleza. E hoje, D. Maria Natividade, mãe desses caras, é ouvinte do nosso programa dominical Jovem Guarda Especial - e uma ouvinte que participa, sempre. Que bom que a gente criou esse laço de amizade, construído por conta de uma boa música, uma boa causa. Colaborador do Goto Seco, Zine e Blog assinados pelos irmãos Carlos Henrique e Carlos Eduardo, hoje Ilton estréia no Retratos & Canções também como um colaborador. Essa sua crônica nos convida a uma reflexão. Eu já fiz a minha. E quero também fazer a minha parte (acho até que já faço!) para a melhoria desse nosso mundo. Faça você também.
Meu caro Ilton, seja bem-vindo! A gente precisa de pessoas assim como você. Manda ver, cara... 


O que é que eu tenho a ver com isso?*


Vivemos num mundo cada vez mais confuso, desigual, dividido, violento, cruel... As pessoas são cada vez mais egoístas, individualistas, também violentas, solitárias, infelizes... Enquanto alguns países gastam bilhões de dólares para manter guerras imbecis sem explicação (qualquer ato violento é imbecil), matando inocentes “vítimas do sistema”, outros tantos morrem de fome ou em decorrência de alguma das tantas conseqüências da pobreza.
Outro fato não menos grave e responsável por parte do caos humano, causa e conseqüência da vida “pós-moderna”, e já anunciada pelo Renato Russo é a solidão, a depressão: “Digam o que disserem, o mau do século é a solidão...” Milhões de pessoas morrem em vida por não terem mais a “energia vital” para viver. Parece redundante, confuso e contraditório, mas não é! E o pior, ninguém percebe isso.
Diante deste quadro sintético da sociedade capitalista contemporânea, o caro leitor deve está fazendo-se a seguinte pergunta: “O que eu tenho a ver com isso? Este cara parece que não tem o que fazer e fica escrevendo o que todo mundo já sabe! Ahh! Vou jogar este zine no lixo e assistir a novela das oito.”
Mas antes que a novela comece, caro leitor, responderei a pergunta postulada acima. Temos tudo a ver com isso. Somos nós que vivemos neste mundo, que sofremos suas mazelas, direta ou indiretamente. Somos responsáveis por parte deste caos e nem nos damos conta disso.
E antes que as linhas desta folha se acabem e a novela realmente comece, faço outra pergunta: o que podemos fazer para mudar isto? Sempre podemos fazer algo, por menor que pareça. Procure fazer o bem, cultive boas energias dentro do seu coração, como diz a música da banda de reggae Donaleda: “Retire do seu coração a inveja, a ganância e o orgulho/ Plante o amor e a compaixão”.
Ajude os mais pobres, converse com as pessoas, faça alguém sorrir, participe de uma ONG, apaixone-se, sinta as boas vibrações emanadas pela natureza, tome um banho de mar, escreva um zine, mas não seja como os medíocres. Não deixe a vida passar sem tentar mudar algo de errado, e apenas aceitar as coisas pelo simples fato delas existirem. E não esqueça o velho lugar comum: “a mudança começa dentro de nós mesmos”.

Ilton Soares.
Geógrafo e colaborador do Movimento Alternativo Goto Seco

*Crônica publicada originalmente no Zine Independente alternativo Goto Seco , edição nº 22, Out/09 (http://www.gotoseco.blogspot.com/).
Fotos: Eliel Silva

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Devaneios


O grito (Edvard Munch)


Um poema apenas


“O que andas fazendo nestes últimos dias,
meu filho de olhos escuros?”
Perguntou-me o ancião do fim da rua.
“Não sei se fiz certo, respondi,
mas gostei muito de alguém!”
“Você fez o melhor, disse ele,
pois talvez não haja mais tempo pro amor.
Algo terrível está pra acontecer!”

Hey, baby
Fiz um poema pra você
Porque há flores murchando,
jardins tão vazios...
Há pássaros migrando
para além das montanhas,
Há crianças chorando na noite.
E alguma coisa está pra acontecer!


Talvez eu parta amanhã
Poderia ter sido ontem
Pode ser hoje também
Mas isso não mudará o que eu sinto.
Você me apontou a linha do horizonte
E eu não posso mais esperar.
Porque algo vai acontecer.


Hey, baby
Não consigo ouvir sua voz
no silêncio da noite.
Só o latido de um vira-lata na rua
E o ressonar de um vadio caído à sarjeta
Me dizem que algo está pra acontecer.


Agora me calo.
Paro com esse papo tão estranho.
Você talvez não vá me entender.
Já ouço o cantar de uma ave agourenta.
Sinto que tenho que partir.
Mas quero levá-la comigo, baby.
Quando passar o eclipse
Eu quero estar com você
Na parte mais clara da lua
Pois algo está pra acontecer.

(Eliel Silva – 26/02/1986)